segunda-feira, 27 de novembro de 2023

CITAÇÕES APÓCRIFAS NA BÍBLIA

TEXTO: Provérbios 3:13

´´Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento.´´

Verdade prática: Os apócrifos possuem valor histórico e literário.

INTRODUÇÃO

Os livros canônicos da Bíblia são plenamente inspirados pelo Espírito Santo e os apócrifos não. Alguns deles possuem citações relevantes quanto à história, sendo poucas as passagens inspiradas, mencionadas pela própria Bíblia. 

Longe de polemizar ou censurar a literatura apócrifa e pseudoepígrafa, esse artigo vem com a intenção de reunir citações apócrifas de conhecimento popular que, embora tenham sido originadas primeiramente de textos não canônicos da Bíblia não considerados inspirados pelo Espírito Santo; a própria Bíblia através dos seus sábios escritores inspirados por Deus, cita contextos oriundos de apócrifos.

I- OS FILHOS DE DEUS E AS FILHAS DOS HOMENS 

(Comparar Gn 6:1-4 com Josefo: História dos Hebreus /pg.23) [1]

Sem dúvidas um dos assuntos mais especulados e polemizados da Bíblia. Direto ao ponto, é inconcebível crer que nesta passagem que anjos - filhos de Deus; tenham procriado com mulheres humanas - filhas dos homens; pelos seguintes motivos:

1. A criação dos anjos é distinta dos humanos. Os seres angelicais foram criados bem antes da existência do homem, sendo sua própria existência distinta da raça humana. 

a. Multidões x Procriação. Os anjos foram criados em ´´exércitos´´ e ´´milhares de milhares´´, quantidade tão grande que não se pode contar, mas Lúcifer ao se rebelar, levou consigo a terça parte desse montante. Imaginamos que existem muitos demônios - anjos caídos; agora quanto seria a terça parte dessa quantia? E ainda, que necessidade teriam de gerar sua prole se já existem em centenas de milhares?

b. Naturais x Sobrenaturais. O homem é considerado um ser natural enquanto os anjos são sobrenaturais. Prova disso é que mesmo após comer do fruto, Adão e Eva não receberam o ´´veredicto´´ de Deus, por isso foram privados de ter acesso a árvore da vida - antes de comer e viverem eternamente do pecado; e ainda puderam ser salvos, enquanto os anjos caídos já estão condenados - pecaram em esfera espiritual e num corpo sobrenatural.

2. Procriação angelical x Mitologia grega. Anjos procriarem com humanas e gerarem uma nova raça ´´especial´´, nesse caso, os nefilins, soa familiar com mitologias. Na grega por exemplo, os deuses do Olimpo se relacionavam com humanas dando luz a filhos semideuses - meio homens e meio deuses.

II- CARTA A IGREJA DE LAODICEIA 

(Comparar Cl 4:12-16 com a Epístola aos Laodicenses

Esta menção revela algo interessante: A carta que Paulo enviou à igreja de Colosso devia ser lida pela igreja de Laodiceia, e a que foi enviada a Laodiceia devia ser lida também em Colosso - troca de cartas entre as igrejas. Aos Colossenses está no cânon do NT. Aos Laodicenses não, embora esteja na sétima carta às igrejas do Apocalipse. Por que? Não podemos responder. 

1. Laodiceia no Apocalipse. Jesus através de João escreve as sete igrejas da Ásia, sendo a última delas a de Laodiceia (Ap 3:14-21). Ela não teve elogios, foi duramente repreendida e criticada por sua mornidão, por não ser fria nem quente - nos dias de hoje seria uma igreja ´´politicamente correta´´, o inverso da ´´liberdade de expressão´´; por sua falsa opulência - falsa segurança; nas próprias riquezas.

2. Epístola aos Laodicenses.  Pequena carta encontrada em algumas edições da Vulgata, conhecida apenas em Latim, que dizem ser a carta de Paulo aos Laodicenses mencionada na Epístola aos Colossenses

Há uma crença quase unânime de ser uma falsificação - mera obra de origens diversas obtidas de epístolas Paulinas genuínasAdolf von Harnack sugere ter sido escrita por Marcion ou um de seus seguidores, mas a despeito de um exame literário, sua sugestão não pode ser substanciada ou negada. Sobretudo, esta pequena obra não contém qualquer doutrina, ensinamentos ou narrativas que não são encontradas em outros lugares e sua exclusão possui um pequeno efeito no cânon do NT.

III- A DISPUTA PELO CORPO DE MOISÉS 

(Comparar Jd 9 com Zc 3:2 e o Livro da Assunção de Moisés)

O ´´Testamento de Moisés´´ (ou Assunção), é um livro apócrifo escrito originalmente em hebraico ou aramaico (de 3 a.C. a 30 d.C.), com versões em grego e latim. De origem palestina e ambiente farisaico, procura narrar a história do mundo, em forma de profecia, desde Moisés até ao tempo do autor.

Foi descoberto por Antonio Ceriani na Biblioteca Ambrosiana de Milão, em meados do século XIX e publicado por ele em 1861. O texto está em doze capítulos e diz ser secretas profecias reveladas por Moisés a Josué antes de lhe transmitir a liderança dos Israelitas.

A disputa entre o Arcanjo Miguel e Satanás pelo corpo de Moisés foi descrito neste livro, e posteriormente, mencionado na epístola de Judas (1:9), embora não tenha sido atribuída a qualquer fonte específica. 

IV- A PROFECIA DE ENOQUE 

(Comparar Jd 14,15 com 1Enoque 1:9) 

O Primeiro Livro de Enoque, também chamado de Enoque Etíope ou simplesmente 1 Enoque; é um livro pseudoepígrafo atribuído a Enoque, ancestral de Noé, contendo literatura apocalíptica judaica.

Bem conhecido pela sua versão em etíope, o livro teve porções preservadas em grego koiné - o mesmo do NT; latim - língua oficial do império romano; siríaco e copta. Teve suas últimas citações antes da era moderna perto do séc. IX, em grego bizantino. As porções mais antigas do livro foram encontradas entre os Manuscritos do Mar Morto em Qumram, indicando que o livro é uma compilação de textos em aramaico escritos no período intertestamentário, entre o séc. III a.C. e o séc. I. d.C.

Foi um dos vários livros apocalípticos escritos no período do Segundo Templo, porém, nunca foi candidato à canonicidade entre o judaísmo rabínico, sendo guardado principalmente por escolas esotéricas judaicas e, posteriormente, usado como principal fonte folclórica para a história da queda dos anjos.[2]

CONCLUSÃO 

Os livros apócrifos e pseudoepígrafos possuem considerável valor histórico, servindo de subsídio aos pormenores intertestamentários e até mesmo anteriores, que possivelmente, foram escritos em detrimento da preservação mitológica, da tradição oral e das histórias, bem como dos conhecimentos populares transmitidos oralmente entre gerações afim de que não se perdessem. 

Certamente, tomaram maior alcance com a adoção de pseudônimos conhecidos e famosos por parte do verdadeiro autor das obras, de maneira que, ainda que os tais não fossem Moisés, Enoque, etc, suas obras tornar-se-iam conhecidas e eternizadas no imaginário popular. 

A intenção deste artigo não foi menosprezar os livros, mas pontuar citações de alguns deles por autores da Bíblia e incentivar o caro leitor a abrir sua mente para o conhecimento. Se possível, leia-os também, ainda que não reflitam seu ideal religioso. Nunca é ruim aprender mais, de maneira que, como está escrito no verso áureo deste artigo, feliz é aquele que encontra a sabedoria e adquire conhecimento!

REFERÊNCIAS

[1] JOSEFO, Flavio. A História dos Hebreus. Disponível em: https://drive.google.com/drive/folders/1XqwY8xPh00MMMWghOXqbEk7u4Lo-0ErpAcessado em: 27/11/2023. pg 23. 1627 pgs. 

[2] OLSON, Daniel C. (2021) [2019]. DUNN, James D. G., ed. Eerdmans Commentary on the Bible. First Enoch. John W. Rogerson. Chicago: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. p. 35-37, 43. ISBN 978-1-4674-5474-2OCLC 1246582620

[3] WIKIPEDIA, A Enciclopédia Livre. A Assunção de Moisés. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Assun%C3%A7%C3%A3o_de_Mois%C3%A9s. Acessado em: 27/11/2023. 

[4] WIKIPEDIA, A Enciclopédia Livre. Primeiro Livro de Enoque. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Livro_de_EnoqueAcessado em: 27/11/2023. 

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A LEITURA DA BÍBLIA E A PÓS-MODERNIDADE

Textos: Cl 2:8; 2Tm 3:16

Verdade prática: Alguns elementos filosóficos e religiosos da pós – modernidade afetam a interpretação bíblica do cristão.

Introdução: Existem alguns aspectos da pós-modernidade que ameaçam a interpretação das Escrituras. Primeiro, o conceito de tolerância. Eu me refiro à ideia contemporânea de total complacência para com o pensamento de outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e atitudes pessoais, ao ponto de nunca se externar seu próprio ponto de vista de forma a contradizer o ponto de vista dos outros. Esse tipo de tolerância não deve ser confundido com a tolerância cristã, pois resulta da falta de convicções em questões filosóficas, morais e religiosas: “A tolerância é a virtude do homem sem convicções” (G. K. Chesterton). É fortalecida pela queda na confiança na verdade, causada pelo avanço da pós-modernidade.

Neste artigo, veremos os principais pressupostos do pensamento pós-moderno que contaminam diretamente a forma como nós, cristãos, lemos, interpretamos e aplicamos as Sagradas Escrituras.

1. O POLITICAMENTE CORRETO

1.1. Conceito. Politicamente correto é aquilo que se faz em sociedade por meio de ações e opinião ideológica, de maneira que as minorias não se sintam ´´ofendidas´´ ou ´´oprimidas´´. Este conceito é manifesto quando passam a fazer o uso da criação de narrativas para criminalização da opinião, fazendo ou obrigando a resistência a nunca externar seu ponto de vista e contradizer o outro para não ´´ofender´´ ou ´´oprimir´´. Isso não é tolerância, é fascismo! – uma falsa tolerância totalitária.  

É sobre aquilo que é aceitável como correto na sociedade onde se vive. É o que se faz em um grupo sem que alguém se sinta ofendido.

1.2. Exemplos. O que é e não é politicamente correto?

a.       É politicamente correto

Ouvir os outros sem qualquer crítica, reparo ou discordância explícita é “politicamente correto”. Notemos aqui em especial, a preocupação em não ofender as minorias ou grupos oprimidos: negros, lgbt, mulheres, pobres, pessoas do 3º mundo, etc.

 b.      Não é “Politicamente correto”

Fazer ou afirmar coisas que desagradem as pessoas, como por exemplo, emitir valores morais sobre imoralidade sexual, pois, pessoas que vivem nessas práticas sentir-se-ão ofendidas.

 Nota: uma das características da pós modernidade que evidenciamos na prática do politicamente correto é o hedonismo, que é a ausência de sofrimento em forma de ofensas ou opressão – um conceito antibíblico e anticristão, uma vez que nos foi avisado que quem deseja andar com Cristo, padeceria perseguições (2Tm 3:12). Assim, o hedonismo é disseminado por aqueles que se portam de forma politicamente correta.

1.3. O Politicamente correto e a interpretação Bíblica. Como o politicamente correto afeta a forma como lemos, interpretamos e aplicamos a Bíblia?

A ´´tolerância´´ característica da pós-modernidade afeta a interpretação da Bíblia levando as pessoas a interpretarem a partir do politicamente correto. Evita-se qualquer leitura, interpretação ou posicionamento considerado ofensivo à sociedade ou comunidade a que se ministra.

Textos bíblicos que denunciam claramente determinados comportamentos morais, como o homossexualismo, são domesticados com uma leitura crítica que os reduz a expressões retrógradas típicas dos machistas do século I. Textos que anunciam a Cristo como o único caminho para Deus são interpretados de tal forma a não excluir a salvação em outras religiões.

2. O INCLUSIVISMO

2.1. Conceito. Um outro aspecto da pós-modernidade que afeta a leitura da Bíblia é o inclusivismo. Num certo sentido, é o resultado do multiculturalismo do mundo pós-moderno. Não há mais no mundo ocidental um país com uma cultura única e uma raça homogênea. Países ocidentais, por exemplo, são multiculturais e tem uma mescla de diversas raças. Para que não se seja ofensivo e para que se possa conviver harmoniosamente, é necessário ser inclusivista. Isso significa dar vez e voz a todas as culturas e raças representadas.

Na sociedade pós-moderna, o conceito se estende para incluir os grupos moralmente orientados. Significa especialmente repartir o poder com as minorias anteriormente oprimidas pelas estruturas de poder, como negros, homos, mulheres, raças minoritárias...

2.2. Exemplos.

a. Estudos nos meios acadêmicos sobre a cultura de raças minoritárias e oprimidas no ocidente, como africanos, hispânicos e orientais.

b. Criação de bolsas de estudos e empregos para membros destas minorias, bem como de grupos oprimidos, como as mulheres e transgêneros.

c. Luta contra discriminação baseada em raça, religião, postura política e gênero.

O que nos preocupa no inclusivismo é que ele exclui qualquer juízo de valor em termos morais, religiosos e justiça. Tem que ser assim para que o relacionamento multicultural e multi-moral funcione em detrimento da ´´democracia politicamente correta´´.

2.3. O Inclusivismo e a interpretação Bíblica. O inclusivismo também influencia na interpretação bíblica. Sua mensagem é abordada do ponto de vista do programa das minorias. Por exemplo, a chamada teologia negra, a teologia da libertação, teologias feministas... Outra coisa é a tendência cada vez mais forte de se publicarem traduções da Bíblia sem linguagem genérica ofensiva, isto é, tirando todas as referências a Deus como sendo homem, etc.

Nota: Por inferência, podemos perceber de modo subliminar que, o politicamente correto somado ao inclusivismo dá origem a outras duas características pós-modernas: o pluralismo e o relativismo. O papel de ambos é considerar as diversidades multiculturais e relativizar valores morais absolutos - conservadores e cristãos.

 3. O RELATIVISMO

3.1. Conceito. O terceiro aspecto da pós-modernidade que influencia a leitura da Bíblia hoje é o relativismo. O relativismo, no que tange ao campo dos valores e dos conceitos morais e religiosos, é a ideia de que todos os valores morais e as crenças religiosas são relativos, igualmente válidos e que não se pode julgar entre eles. A verdade depende das lentes que alguém usa para ler a vida. O importante é que as pessoas tenham crenças, e não provar que uma delas é certa e a outra errada. Não há meio de se arbitrar sobre a verdade porque não há parâmetros absolutos. Desta forma, alguém pode crer em coisas mutuamente excludentes sem qualquer inconsistência. Ninguém pode tentar mudar a opinião de outrem em questões morais e religiosas.

3.2. O Relativismo e a interpretação Bíblica. Existem alguns perigos no relativismo quanto à leitura da Bíblia.

a. O relativismo mina a credibilidade em qualquer forma de interpretação que se proponha como a correta.

b. O relativismo individualiza a verdade. Cada pessoa tem sua verdade e ninguém pode alegar que a sua é superior à dos outros. Portanto, ninguém pode ter a pretensão de converter outros à sua fé.

Muitos evangelistas tentam suavizar a sua interpretação da mensagem do Evangelho, excluindo os elementos que não são “politicamente corretos” como: pecado, culpa, condenação, ira de Deus, arrependimento, mudança de vida. Acaba sendo uma tentação de escapar pela forma mais fácil do dilema entre falar todo o conselho de Deus ou ofender as pessoas.

CONCLUSÃO

Esses são alguns dos perigos que a pós-modernidade traz à leitura e interpretação das Escrituras. Reconhecemos a contribuição da pós-modernidade em destacar a participação do contexto e do leitor na produção de significado, quando se lê um texto. Porém, discordamos que isso invalide a possibilidade de uma leitura das Escrituras que nos permita alcançar a mensagem de Deus para nós e de ouvir a voz de Cristo, como Ele gostaria que ouvíssemos.

REFERÊNCIA

BIBLIOTECA CHARLES SPURGEON. NICODEMUS, Augustus. A Leitura da Bíblia e a Pós Modernidade – Augustus Nicodemus. Acessado em: 16/11/2023. Disponível em: spurgeonline.com.br/artigos.

AVISO: MANUTENÇÃO DO BANCO DE DADOS

Devido a manutenção do servidor, alguns hiperlinks podem não concluir a busca e apresentar o seguinte aviso: Desculpe o transtorno. Estamos ...

Mais visitadas