Textos: Cl 2:8; 2Tm 3:16
Verdade prática:
Alguns elementos filosóficos e religiosos da pós – modernidade afetam a
interpretação bíblica do cristão.
Introdução: Existem alguns aspectos da pós-modernidade que ameaçam
a interpretação das Escrituras. Primeiro, o conceito de tolerância. Eu me
refiro à ideia contemporânea de total complacência para com o pensamento de
outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e
atitudes pessoais, ao ponto de nunca se externar seu próprio ponto de vista de
forma a contradizer o ponto de vista dos outros. Esse tipo de tolerância não
deve ser confundido com a tolerância cristã, pois resulta da falta de
convicções em questões filosóficas, morais e religiosas: “A tolerância é a virtude do homem sem convicções” (G. K. Chesterton).
É fortalecida pela queda na confiança na verdade, causada pelo avanço da
pós-modernidade.
Neste artigo, veremos os
principais pressupostos do pensamento pós-moderno que contaminam diretamente a
forma como nós, cristãos, lemos, interpretamos e aplicamos as Sagradas
Escrituras.
1. O POLITICAMENTE CORRETO
1.1. Conceito. Politicamente correto é aquilo que se faz em
sociedade por meio de ações e opinião ideológica, de maneira que as minorias
não se sintam ´´ofendidas´´ ou ´´oprimidas´´. Este conceito é manifesto quando
passam a fazer o uso da criação de narrativas para criminalização da opinião,
fazendo ou obrigando a resistência a nunca externar seu ponto de vista e
contradizer o outro para não ´´ofender´´ ou ´´oprimir´´. Isso não é tolerância,
é fascismo! – uma falsa tolerância totalitária.
É sobre aquilo que é aceitável
como correto na sociedade onde se vive. É o que se faz em um grupo sem que alguém
se sinta ofendido.
1.2. Exemplos. O que é e não é politicamente correto?
a. É
politicamente correto
Ouvir os outros sem qualquer crítica, reparo ou discordância explícita é “politicamente correto”. Notemos aqui em especial, a preocupação em não ofender as minorias ou grupos oprimidos: negros, lgbt, mulheres, pobres, pessoas do 3º mundo, etc.
Fazer ou afirmar coisas que desagradem as pessoas, como por exemplo, emitir valores morais sobre imoralidade sexual, pois, pessoas que vivem nessas práticas sentir-se-ão ofendidas.
1.3. O Politicamente correto e a interpretação Bíblica. Como o
politicamente correto afeta a forma como lemos, interpretamos e aplicamos a
Bíblia?
A ´´tolerância´´ característica
da pós-modernidade afeta a interpretação da Bíblia levando as pessoas a interpretarem a partir do politicamente correto. Evita-se qualquer leitura, interpretação ou
posicionamento considerado ofensivo à sociedade ou comunidade a que se
ministra.
Textos bíblicos que denunciam
claramente determinados comportamentos morais, como o homossexualismo, são
domesticados com uma leitura crítica que os reduz a expressões retrógradas
típicas dos machistas do século I. Textos que anunciam a Cristo como o único
caminho para Deus são interpretados de tal forma a não excluir a salvação em
outras religiões.
2. O INCLUSIVISMO
2.1. Conceito. Um outro aspecto da pós-modernidade que afeta a
leitura da Bíblia é o inclusivismo. Num certo sentido, é o resultado do
multiculturalismo do mundo pós-moderno. Não há mais no mundo ocidental um país
com uma cultura única e uma raça homogênea. Países ocidentais, por exemplo, são
multiculturais e tem uma mescla de diversas raças. Para que não se seja
ofensivo e para que se possa conviver harmoniosamente, é necessário ser
inclusivista. Isso significa dar vez e voz a todas as culturas e raças
representadas.
Na sociedade pós-moderna, o
conceito se estende para incluir os grupos moralmente orientados. Significa
especialmente repartir o poder com as minorias anteriormente oprimidas pelas
estruturas de poder, como negros, homos, mulheres, raças minoritárias...
2.2. Exemplos.
a. Estudos nos meios acadêmicos sobre a
cultura de raças minoritárias e oprimidas no ocidente, como africanos,
hispânicos e orientais.
b. Criação de bolsas de estudos e
empregos para membros destas minorias, bem como de grupos oprimidos, como as
mulheres e transgêneros.
c. Luta contra discriminação baseada em
raça, religião, postura política e gênero.
O que nos preocupa no
inclusivismo é que ele exclui qualquer juízo de valor em termos morais,
religiosos e justiça. Tem que ser assim para que o relacionamento multicultural
e multi-moral funcione em detrimento da ´´democracia politicamente correta´´.
2.3. O Inclusivismo e a interpretação Bíblica. O inclusivismo
também influencia na interpretação bíblica. Sua mensagem é abordada do ponto de
vista do programa das minorias. Por exemplo, a chamada teologia negra, a
teologia da libertação, teologias feministas... Outra coisa é a tendência cada
vez mais forte de se publicarem traduções da Bíblia sem linguagem genérica
ofensiva, isto é, tirando todas as referências a Deus como sendo homem, etc.
Nota: Por inferência, podemos perceber de modo subliminar que, o
politicamente correto somado ao inclusivismo dá origem a outras duas
características pós-modernas: o pluralismo e o relativismo. O papel de ambos é considerar
as diversidades multiculturais e relativizar valores morais absolutos -
conservadores e cristãos.
3.1. Conceito. O terceiro aspecto da pós-modernidade que influencia
a leitura da Bíblia hoje é o relativismo. O relativismo, no que tange ao campo
dos valores e dos conceitos morais e religiosos, é a ideia de que todos os
valores morais e as crenças religiosas são relativos, igualmente válidos e que
não se pode julgar entre eles. A verdade depende das lentes que alguém usa para
ler a vida. O importante é que as pessoas tenham crenças, e não provar que uma
delas é certa e a outra errada. Não há meio de se arbitrar sobre a verdade
porque não há parâmetros absolutos. Desta forma, alguém pode crer em coisas
mutuamente excludentes sem qualquer inconsistência. Ninguém pode tentar mudar a
opinião de outrem em questões morais e religiosas.
3.2. O Relativismo e a interpretação Bíblica. Existem alguns
perigos no relativismo quanto à leitura da Bíblia.
a. O relativismo mina a credibilidade
em qualquer forma de interpretação que se proponha como a correta.
b. O relativismo individualiza a
verdade. Cada pessoa tem sua verdade e ninguém pode alegar que a sua é superior
à dos outros. Portanto, ninguém pode ter a pretensão de converter outros à sua
fé.
Muitos evangelistas tentam
suavizar a sua interpretação da mensagem do Evangelho, excluindo os elementos
que não são “politicamente corretos” como: pecado, culpa, condenação, ira de
Deus, arrependimento, mudança de vida. Acaba sendo uma tentação de escapar pela
forma mais fácil do dilema entre falar todo o conselho de Deus ou ofender as
pessoas.
CONCLUSÃO
Esses são alguns dos perigos que
a pós-modernidade traz à leitura e interpretação das Escrituras. Reconhecemos a
contribuição da pós-modernidade em destacar a participação do contexto e do
leitor na produção de significado, quando se lê um texto. Porém, discordamos
que isso invalide a possibilidade de uma leitura das Escrituras que nos permita
alcançar a mensagem de Deus para nós e de ouvir a voz de Cristo, como Ele
gostaria que ouvíssemos.
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