sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A LEITURA DA BÍBLIA E A PÓS-MODERNIDADE

Textos: Cl 2:8; 2Tm 3:16

Verdade prática: Alguns elementos filosóficos e religiosos da pós – modernidade afetam a interpretação bíblica do cristão.

Introdução: Existem alguns aspectos da pós-modernidade que ameaçam a interpretação das Escrituras. Primeiro, o conceito de tolerância. Eu me refiro à ideia contemporânea de total complacência para com o pensamento de outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e atitudes pessoais, ao ponto de nunca se externar seu próprio ponto de vista de forma a contradizer o ponto de vista dos outros. Esse tipo de tolerância não deve ser confundido com a tolerância cristã, pois resulta da falta de convicções em questões filosóficas, morais e religiosas: “A tolerância é a virtude do homem sem convicções” (G. K. Chesterton). É fortalecida pela queda na confiança na verdade, causada pelo avanço da pós-modernidade.

Neste artigo, veremos os principais pressupostos do pensamento pós-moderno que contaminam diretamente a forma como nós, cristãos, lemos, interpretamos e aplicamos as Sagradas Escrituras.

1. O POLITICAMENTE CORRETO

1.1. Conceito. Politicamente correto é aquilo que se faz em sociedade por meio de ações e opinião ideológica, de maneira que as minorias não se sintam ´´ofendidas´´ ou ´´oprimidas´´. Este conceito é manifesto quando passam a fazer o uso da criação de narrativas para criminalização da opinião, fazendo ou obrigando a resistência a nunca externar seu ponto de vista e contradizer o outro para não ´´ofender´´ ou ´´oprimir´´. Isso não é tolerância, é fascismo! – uma falsa tolerância totalitária.  

É sobre aquilo que é aceitável como correto na sociedade onde se vive. É o que se faz em um grupo sem que alguém se sinta ofendido.

1.2. Exemplos. O que é e não é politicamente correto?

a.       É politicamente correto

Ouvir os outros sem qualquer crítica, reparo ou discordância explícita é “politicamente correto”. Notemos aqui em especial, a preocupação em não ofender as minorias ou grupos oprimidos: negros, lgbt, mulheres, pobres, pessoas do 3º mundo, etc.

 b.      Não é “Politicamente correto”

Fazer ou afirmar coisas que desagradem as pessoas, como por exemplo, emitir valores morais sobre imoralidade sexual, pois, pessoas que vivem nessas práticas sentir-se-ão ofendidas.

 Nota: uma das características da pós modernidade que evidenciamos na prática do politicamente correto é o hedonismo, que é a ausência de sofrimento em forma de ofensas ou opressão – um conceito antibíblico e anticristão, uma vez que nos foi avisado que quem deseja andar com Cristo, padeceria perseguições (2Tm 3:12). Assim, o hedonismo é disseminado por aqueles que se portam de forma politicamente correta.

1.3. O Politicamente correto e a interpretação Bíblica. Como o politicamente correto afeta a forma como lemos, interpretamos e aplicamos a Bíblia?

A ´´tolerância´´ característica da pós-modernidade afeta a interpretação da Bíblia levando as pessoas a interpretarem a partir do politicamente correto. Evita-se qualquer leitura, interpretação ou posicionamento considerado ofensivo à sociedade ou comunidade a que se ministra.

Textos bíblicos que denunciam claramente determinados comportamentos morais, como o homossexualismo, são domesticados com uma leitura crítica que os reduz a expressões retrógradas típicas dos machistas do século I. Textos que anunciam a Cristo como o único caminho para Deus são interpretados de tal forma a não excluir a salvação em outras religiões.

2. O INCLUSIVISMO

2.1. Conceito. Um outro aspecto da pós-modernidade que afeta a leitura da Bíblia é o inclusivismo. Num certo sentido, é o resultado do multiculturalismo do mundo pós-moderno. Não há mais no mundo ocidental um país com uma cultura única e uma raça homogênea. Países ocidentais, por exemplo, são multiculturais e tem uma mescla de diversas raças. Para que não se seja ofensivo e para que se possa conviver harmoniosamente, é necessário ser inclusivista. Isso significa dar vez e voz a todas as culturas e raças representadas.

Na sociedade pós-moderna, o conceito se estende para incluir os grupos moralmente orientados. Significa especialmente repartir o poder com as minorias anteriormente oprimidas pelas estruturas de poder, como negros, homos, mulheres, raças minoritárias...

2.2. Exemplos.

a. Estudos nos meios acadêmicos sobre a cultura de raças minoritárias e oprimidas no ocidente, como africanos, hispânicos e orientais.

b. Criação de bolsas de estudos e empregos para membros destas minorias, bem como de grupos oprimidos, como as mulheres e transgêneros.

c. Luta contra discriminação baseada em raça, religião, postura política e gênero.

O que nos preocupa no inclusivismo é que ele exclui qualquer juízo de valor em termos morais, religiosos e justiça. Tem que ser assim para que o relacionamento multicultural e multi-moral funcione em detrimento da ´´democracia politicamente correta´´.

2.3. O Inclusivismo e a interpretação Bíblica. O inclusivismo também influencia na interpretação bíblica. Sua mensagem é abordada do ponto de vista do programa das minorias. Por exemplo, a chamada teologia negra, a teologia da libertação, teologias feministas... Outra coisa é a tendência cada vez mais forte de se publicarem traduções da Bíblia sem linguagem genérica ofensiva, isto é, tirando todas as referências a Deus como sendo homem, etc.

Nota: Por inferência, podemos perceber de modo subliminar que, o politicamente correto somado ao inclusivismo dá origem a outras duas características pós-modernas: o pluralismo e o relativismo. O papel de ambos é considerar as diversidades multiculturais e relativizar valores morais absolutos - conservadores e cristãos.

 3. O RELATIVISMO

3.1. Conceito. O terceiro aspecto da pós-modernidade que influencia a leitura da Bíblia hoje é o relativismo. O relativismo, no que tange ao campo dos valores e dos conceitos morais e religiosos, é a ideia de que todos os valores morais e as crenças religiosas são relativos, igualmente válidos e que não se pode julgar entre eles. A verdade depende das lentes que alguém usa para ler a vida. O importante é que as pessoas tenham crenças, e não provar que uma delas é certa e a outra errada. Não há meio de se arbitrar sobre a verdade porque não há parâmetros absolutos. Desta forma, alguém pode crer em coisas mutuamente excludentes sem qualquer inconsistência. Ninguém pode tentar mudar a opinião de outrem em questões morais e religiosas.

3.2. O Relativismo e a interpretação Bíblica. Existem alguns perigos no relativismo quanto à leitura da Bíblia.

a. O relativismo mina a credibilidade em qualquer forma de interpretação que se proponha como a correta.

b. O relativismo individualiza a verdade. Cada pessoa tem sua verdade e ninguém pode alegar que a sua é superior à dos outros. Portanto, ninguém pode ter a pretensão de converter outros à sua fé.

Muitos evangelistas tentam suavizar a sua interpretação da mensagem do Evangelho, excluindo os elementos que não são “politicamente corretos” como: pecado, culpa, condenação, ira de Deus, arrependimento, mudança de vida. Acaba sendo uma tentação de escapar pela forma mais fácil do dilema entre falar todo o conselho de Deus ou ofender as pessoas.

CONCLUSÃO

Esses são alguns dos perigos que a pós-modernidade traz à leitura e interpretação das Escrituras. Reconhecemos a contribuição da pós-modernidade em destacar a participação do contexto e do leitor na produção de significado, quando se lê um texto. Porém, discordamos que isso invalide a possibilidade de uma leitura das Escrituras que nos permita alcançar a mensagem de Deus para nós e de ouvir a voz de Cristo, como Ele gostaria que ouvíssemos.

REFERÊNCIA

BIBLIOTECA CHARLES SPURGEON. NICODEMUS, Augustus. A Leitura da Bíblia e a Pós Modernidade – Augustus Nicodemus. Acessado em: 16/11/2023. Disponível em: spurgeonline.com.br/artigos.

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