TEXTO: Marcos 15:21
" E constrangeram um certo Simão Cirineu, pai de Alexandre e Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz"
Verdade prática: Simão não foi escolhido do acaso aleatoriamente pelos soldados. Deus o escolheu para ter um encontro com Ele, através do Seu Cordeiro, para que assim, sua família fosse transformada e lembrada pelo Senhor nas Escrituras. Que nossas vidas sejam transformadas e nossas vestes salpicadas pelo sangue do Cordeiro!
INTRODUÇÃO: Simão
Cirineu, o homem sobre o qual foi colocada a cruz de Jesus na caminhada pela
via dolorosa. Era Páscoa e ele estava em Jerusalém para
participar da cerimônia anual no templo: a Páscoa. Nessa ocasião, os homens judeus se
vestiam de linho branco para participarem do sacrifício do cordeiro
pascal. Se houvesse qualquer mancha que fosse na veste de qualquer homem, eles
eram impedidos de entrar no templo e participar da cerimônia.
1. SIMÃO E A CRUZ DE CRISTO. Era a semana da Festa anual da Páscoa (Jo 19:14). Simão estava em Jerusalém para participar da cerimônia em que o sangue do cordeiro pascal seria aspergido na vestimenta branca. Contudo, ele foi abordado pelo caminho, justamente na via dolorosa por onde Jesus carregava sua cruz até o Calvário. Com muitas dores, cansado, irreconhecível pelas diversas feridas e todo ensanguentado Jesus cai no caminho. Para que levantasse e suportasse carregar a cruz até o fim da via, os soldados romanos convocam Simão o Cirineu, que passava por ali para ajudar o Senhor com a cruz pela via dolorosa. Ao ajudá-lo a se levantar e carregar a cruz, certamente suas vestes brancas foram manchadas pelo sangue de Jesus. Com as roupas manchadas Simão seria impedido de entrar no templo e participar da festa anual da páscoa. Mas por analogia, quem sabe, Simão não havia ouvido que Jesus a quem ele havia ajudado e que manchara a sua roupa era o próprio Cordeiro de Deus? Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! (Jo 1:29).
2. QUEM ERA SIMÃO. Simão era um dos judeus camponeses, que havia saído do campo, fora dos limites da cidade, para ir ao templo receber as gotas do sangue do cordeiro pascal. Segundo os Evangelistas, Simão era oriundo de Cirene, nome de uma região do Norte de África que hoje se situa na Líbia. Um erro comum de muitos sobre esse personagem é pensar que o termo ´´Cirineu´´ se tratava do sobrenome do mesmo, o que é inverídico, pois, refere-se ao seu local de origem. Aliás, muitos personagens na Bíblia são citados da mesma forma, pelo primeiro nome acompanhado de sua naturalidade ou paternidade, tais como Maria Madalena (´´Maria de Magdala´´, pequena aldeia situada na Galileia), Simão Barjonas (´´Simão, filho de Jonas´´ em aramaico), etc. Segundo as Escrituras Simão "passava, vindo do campo´´, o que significa que ele vinha naquele instante de Cirene para a celebração da Páscoa judaica (em Cirene ou área rural de Jerusalém, havia uma importante comunidade judaica - Atos 2:10).
Embora seja mencionado apenas em Mateus e Marcos (Mt 27:32; Mc 15:21-23), aparentemente um personagem anônimo, a Bíblia nos fornece detalhes consideráveis acerca de Simão e sua família como subsídios de maior abordagem e compreensão sobre o assunto.
a. O Testemunho de Simão. Por um momento após ter ajudado Jesus, o Cirineu talvez deva ter ficado triste, decepcionado porque não participaria da festa naquele ano e não receberia a aspersão do sangue em sua roupa. Mas em compensação, acabara de ajudar o Cordeiro de Deus e por seu sangue imaculado e incomum, suas vestes foram salpicadas! Deus foi fiel ao Cirineu e ainda que ele não estivesse no templo, com sua roupa manchada com o sangue do cordeiro simbólico, participou cerimonialmente da festa, com sua veste branca salpicada pelo sangue do Fiel e Verdadeiro Cordeiro de Deus, o que certamente, serviu de grande testemunho a Simão e sua família.
Segundo a tradição, após ajudar Jesus a carregar a cruz, Simão voltou para Cirene e contou o acontecido para sua família. Seu filho Rufo, jovem rejeitado pelo Sinédrio da época, conhecedor da Torá dos judeus, após ouvir de seu pai todo o ocorrido, identificou que o homem que seu pai ajudou a carregar a cruz, era o Messias; sendo uma das primeiras famílias evangelizadas após a crucificação.[1]
b. A família de Simão. Conforme detalhado por João Marcos, Simão tinha dois filhos e uma esposa. Seus dois filhos eram Alexandre e Rufo, sua esposa por outro lado não tem o nome citado nas Escrituras. Vemos na carta aos Romanos o relato de seu filho Rufo e sua esposa fazendo parte da igreja primitiva: "Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e sua mãe, que tem sido mãe para mim também" Rm 16:13.
i. Alexandre, o primogênito. O filho do Cirineu, chamado Alexandre, provavelmente era o primeiro dos dois irmãos, visto seu nome ser citado primeiro. Segundo historicistas parece ter sido alguém que posteriormente se desviou do Evangelho. Paulo por duas vezes faz menção desse nome: "Alexandre o latoeiro, causou-me muitos males, o Senhor lhe pague segundo as suas obras" 2Tm 4:14 e ainda: ´´E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a satanás para aprenderem a não blasfemar" 1Tm 1:20. Vale ressaltar que, na saudação final de Paulo a igreja de Roma anteriormente citado em Romanos 16:13, o apóstolo saúda apenas Rufo e sua mãe. Pelo menos três motivos são especulados por Alexandre não ser citado nesse texto, embora fosse o primogênito da família: Alexandre não residia em Roma - talvez em Éfeso caso fosse o mesmo Alexandre citado na carta a Timóteo; não fosse reconhecido como cristão ou já estivesse morto, assim como Simão.
ii. Rufo, um cristão de destaque. Ao que tudo indica era um cristão de destaque segundo a saudação do Apóstolo Paulo a este: ´´Saudai a Rufo, eleito no Senhor...´´ Rm 16:13. “Eleito” aqui deve ser entendido mais como um título de honra, como o apóstolo faz com Epêneto, Amplíato, Apeles, entre outros; porque, no sentido doutrinário, o que Paulo diz de Rufo pode ser facilmente aplicado a todos os crentes em geral, e aos seus colaboradores de Romanos 16, em especial.
Geoffrey Wilson parece correto quando em seu comentário de Romanos 16.13 afirma: “’Eleito no Senhor’ não se refere à eleição para a salvação, pois esta é comum a todos os crentes; significa que ele [Rufo] era um cristão de destaque (cf. Denney: ‘aquele cristão extraordinário)”.[2]
R.N. Champlin concorda com Wilson ao dizer: ´´ ´´Eleito´´ é um adjetivo descritivo de Rufo. Neste caso, o mais provável é que tal vocábulo não deve ser compreendido em qualquer sentido técnico ou teológico, como ‘escolhido por Deus’, embora certamente isso também suceda no seu caso, mas antes, devemos compreendê-lo como uma espécie de sinônimo de ‘eminente’, isto é, distinguido por sua graça, por seu serviço e por sua especial elevação de caráter”.[3] Por conseguinte, a adição de “no Senhor” significaria que Rufo mostrava distinguir-se como crente em Cristo Jesus.[4]
iii. A esposa de Simão. Uma nota carinhosa e singela é a menção de Paulo à mãe de Rufo, esposa de Simão. A saudação do apóstolo não é dirigida apenas a Rufo, porém, “igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para mim”, diz o apóstolo. Essas palavras sugerem uma profunda afeição de Paulo pela família de Rufo. E esta senhora, com certeza bem idosa e provavelmente viúva na época, é lembrada pelo apóstolo Paulo como uma mãe para ele, pela importância em sua vida em seu ministério, tratando-o como um filho seu. “Exatamente onde e quando foi que a mãe de Rufo se fez mãe de Paulo não sabemos. O fato é que aqui, como ocorre com frequência, o apóstolo uma vez mais prova que aprecia o que os membros femininos têm feito e estão fazendo por ele, pessoalmente, e pela igreja, para a glória de Deus”. [5]
CONCLUSÃO. A vida de Simão e sua família com certeza foi impactada por seu encontro com Deus, através do Seu Cordeiro Jesus Cristo. Ele foi a Jerusalém esperando meras gotas de um cordeiro simbólico, quando na verdade foi escolhido para voltar de lá com as manchas do Verdadeiro Cordeiro de Deus que morreu desde a fundação do mundo (1Pe 1:18-21; Ap 13:8). Isso nos ensina que o sangue de Cristo é suficiente e capaz de nos limpar e remir de todos os pecados, inclusive que não são mais necessários sacrifícios de sangue animal para perdão de nossos pecados (Hb 10:10-14). O encontro do Cireneu com Jesus transformou sua família a partir daquele ano, até que seu filho Rufo e sua esposa se tornassem cristãos exemplares e dignos de memória, ao passo que não apenas Simão foi lembrado nas Escrituras, como a sua família que, com exceção de Alexandre, tiveram destaque na galeria dos cristãos afeiçoados ao apóstolo Paulo.
REFERÊNCIAS
[1] Wikipédia; A Enciclopédia Livre. Simão de Cirene. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%A3o_de_Cirene. Desde: 02/07/2019. Acessado em: 22/02/2021.
[2] Geoffrey B. Wilson. Romanos: Um resumo do pensamento reformado. São Paulo: PES, 1981, p. 218.
[3] R. N. Champlin. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo: Atos/Romanos. Vol. 3. São Paulo: Hagnos, 2002, p. 879. Veja também John Murray, The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. W. Eerdmans Publishing Co., 1987, p 231. Para um ponto de vista diferente, consulte Hendriksen, op. cit., p. 669.
[5] Hendriksen. p.
669,70.
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